quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Muitas novidades!!

No dia 3 de fevereiro fomos para Indiana University localizada em Bloomington foi, até agora, a maior faculdade em que estivemos. Eram 55 alunos de percussão, número realmente alto para este curso. Em contrapartida eram quatro excelentes professores: Kevin Bobo, John Tafoya, Steve Houghton e Michael Spiro.

O masterclass começou por volta das 16:00 e foi uns dos mais animados. Após a demonstração passamos cerca de 20 minutos respondendo as mais diversas questões sobre nossa cultura, a estrutura de nossa universidade e também sobre a viagem.
Logo após voltamos ao hotel, descansamos um pouco e retornarmos à faculdade para assistir a um concerto de música de câmara dos alunos. Tocaram Petit Suite de Claude Debussy, Veràkte Nacht de Arnold Schoenberg e a Sinfonia 31 de Mozart. Foi um bom concerto.

No dia seguinte, 4 de fevereiro, o grupo seguiu para a cidade de Indiana e visitamos o museu da PAS (Percussive Arts Society). Fomos muito bem recebidos por Patrice Bey, promotora de eventos, ela também foi nossa guia durante a visita.
O museu possui um acervo gigantesco de instrumentos históricos e informações culturais. De início vimos alguns instrumentos antigos e um bumbo gigante, ele tinha cerca de 2,5 metros de diâmetro e um som ensurdecedor para quem o tocava. Na sequência vimos diversos instrumentos africanos junto com textos sobre a cultura que eles se encaixavam. No mesmo hall havia uma parede de vidro, atrás da qual existiam incontáveis modelos de caixas, pedais, estantes das mais variadas funcionalidades, tudo muito antigo assim como alguns instrumentos muito diferentes.
Mais a frente, encontramos um par de tímpanos barrocos, as baterias de Gene Kruppa e Buddy Rich. Seguindo pelas seções do museu, vimos dados históricos sobre gravações de trilhas cinematográficas, instrumentos brasileiros e videos do nosso carnaval juntamente com as explicações sobre o que cada instrumento faz no samba. Seguindo pela área de instrumentos populares, encontramos djembes, ocean drums, derbaks e vários tipos de shakers. Pudemos experimentar esses instrumentos e outros que estavam dentro de uma sala que possuia um avançado dispositivo que mudava a reverberacao ambiente e também fazia gravações.
Vimos instrumentos desenvolvidos por Clair Omar Musser por volta dos anos 40 e percebemos que ele já era um grande inovador, pois muito de sua técnologia é usada até hoje nos instrumentos das mais variadas marcas. Essa experiência foi única para todos, passar a manhã dentro deste paraíso foi diferentemente especial para cada um do grupo.

Voltamos para o hotel, descansamos um pouco e nos prepararmos para o concerto. Seguimos para a faculdade e fomos junto com John Tafoya e Steve Houghton para uma pizzaria perto dali. Passamos um tempo lá coletando informações sobre como funciona o curso, sobre as bolsas de estudo e as experiências dos professores. De volta à faculdade fomos direto carregar o instrumental para a sala de concerto. O trabalho teve que ser feito minuciosamente, pois o tempo era curto. O teatro foi liberado para o Piap às 19:00 e a sala seria aberta ao público 19:30.
Fizemos rápidamente a montagem, marcação de palco e a checagem final. Tudo o mais depressa possível para respeitarmos o horário da faculdade. O concerto foi cheio de muita concentração e uma energia extra, pois não passamos o som.

Mais um concerto foi realizado com sucesso, os professores e também os alunos ficaram muito empolgados com a performance e elogiaram bastante. Após recolocar os instrumentos na van fomos descansar, pois a viagem no dia seguinte seria muito cansativa.
05 de fevereiro - Acordamos bem cedo e nos preparamos para a tal viagem que nos levaria de volta de Bloomington para Buffalo. Esta viagem estava programada para durar cerca de 11 horas (sem contar a parada para almoço). Após a manhã toda na estrada chegamos a Oberlin para almoçar com uma figura já conhecida de todos nós. Fomos recebidos com um "Oi Galera" por Michael Rosen, que por muitas vezes deu aulas no Femusc, Festival de Música de Santa Catarina. Nosso almoço foi bem divertido, Michael Rosen sempre muito simpático e engraçado relembrou alguns episódios dos festivais passados.
Em seguida, fomos levados para o conservatório musical de Oberlin e o Mr. Rosen nos mostrou as dependências e uma sala muito especial, que não era muito grande, mas era realmente histórica. As paredes eram cheias de fotos que Michael tirou com os mais variados nomes do mundo musical, como: Keiko Abe, Peter Erskine, Vic Firth, Alan Abel, Frank Epstein, Luciano Berio e muitos outros, além de uma foto para cada novo ano do conservatório. Depois da calorosa despedida seguimos para mais uma jornada dentro da van.

Finalmente chegamos a Buffalo! Cansados, mas muito felizes e, porque não dizer, aliviados. Mais do isso, estavamos com fome!!
Fomos jantar com outro importante nome do mundo percussivo: Jan Willians. John ficou extremamente emocionado neste evento, Jan Willians foi um de seus mais importantes e influentes professores e trabalhou com Elliott Carter, John Cage e muitos outros grandes nomes da música comtemporânea.
Após o jantar, ele muito atenciosamente respondeu diversas perguntas sobre suas fantásticas experiências musicais e muitas delas incluiam nosso querido John Boudler - que fez parte de um excelente trabalho de reviver as Construções de Cage, na decada de 70.

Nos despedimos e fomos para o hotel. Esse dia com certeza foi especial de maneiras diferentes para cada um de nós, depois de tantas emoções finalmente fomos dormir.

06 de Fevereiro - Esse foi um dia muito importante para os integrantes do grupo e principalmente para o John. Buffalo eh a casa de John, onde ele começou a fazer musica e Jan Willians foi seu professor e eh uma das principais referencias de sua vida.
O concerto foi especial e muito emocionante. John foi enfatico quanto a importancia de Jan em sua vida e na historia da percussao. Jan ficou muito tocado com o concerto e elogiou muito o grupo.

Depois fomos para uma confraternizaçao em uma pizzaria. Tres alunos de percussao foram la e alem deles, o professor de percussao, a professora de canto, o de piano e a de dança. As trocas foram muito ricas e divertidas. Paula, professora de canto, nos disse que nao sabia qual era a sua musica preferida: conforme passavam as musicas, ela achava uma melhor que a outra! Uma noite muito especial.

07,fev - No domingo, nosso terceiro e ultimo dia livre na turne, aproveitamos para arrumar as bagagens.
O transporte dos instrumentos no aviao e na van se da de maneira diferente. Para a viagem de SP - NY compactamos ao maximo o instrumental para que tudo estivesse muito bem protegido e embalado, a fim de evitar danos. Chegando nos Estados Unidos rearrumamos todos os cases para deixar o processo de montagem do concerto o mais rapido possivel. Entretanto, para que os instrumentos ficassem arrumados na ordem em que sao utilizados era necessario utilizar mais cases do que no aviao. Assim funcionou por quatro semanas... No inicio da quinta semana precisavamos organizar tudo como era anteriormente e ja deixar as malas quase prontas para o embarque no proximo domingo. Isso ocupou boas horas do nosso dia e depois tinhamos apenas o SuperBowl para acompanhar.
Do que se trata? Era a final dos dois campeonatos de futebol americano mais importantes dos EUA. Foi absurdamente divertido! Muitos de nos se reuniram em volta de uma TV enorme no quarto do John, comendo batatas, nachos, e outros salgadinhos picantes comuns por aqui. A gritaria era grande e, ainda que nem todos entendessem todas as regras do jogo, foram muitas risadas e torcida ferrenha (cada um decidiu na hora para qual time queria torcer!!). Foi uma imersao cultural importante, parecia a final do Brasileirao ou ainda a Copa do Brasil. Por ser um momento de muita audiencia pudemos presenciar tambem muitas propagandas de alta qualidade, criativas e tocantes.

08,fev - Acordamos muito cedo esse dia para viajar para a cidade de Canandaigua, NY. La se encontra a sede da fabrica de instrumentos Fall Creek Marimbas. Fomos recebidos pelo dono da fabrica, Bill Youhass, que - alem de percussionista - eh afinador de teclas, restaurador e construtor de instrumentos.
Depois de nos deixar livres em sua fabrica para experimentar seus instrumentos, Bill nos mostrou os instrumentos que estava restaurando. A maioria eram da marca Deagan e um xilofone Leedy, ambas marcas historicas. Os dois xilofones, o vibrafone e a marimba eram da decada de 40 e 50 e eram historicos.

Impressionante notar a qualidade deles ja naquela epoca, ao passo que algumas marcas e instrumentos de hoje em dia sao de qualidade bem pior.
Logo depois, Bill nos mostrou o complexo processo de transformar um taco de Rosewood (um tipo de madeira) em uma tecla de marimba e todo o processo de afinaçao. Eh algo impressionantemente trabalhoso e cheio de detalhes, que soh o tempo e muitas tentativas ensinam o afinador.

Bill foi muito receptivo na fabrica e no final do nosso passeio perguntamos sobre o melhor lugar para almocar - em alguns lugares, de segunda-feira os restaurantes fecham - e ele se prontificou a ir conosco! Foi um momento otimo, com comida familiar e um bom atendimento.

Depois dessa visita fantastica e enriquecedora voltamos para a van e seguimos viagem. Algum tempo depois tivemos uma surpresa. Todos estavam dormindo quando John gritou que acordassemos para ver a paisagem: Uma queda d`agua enorme e congelada, em meio a uma floresta cheia de neve e o sol se pondo exatamente naquele momento. Fomos apresentados a Vantaughannock falls. Foram poucos minutos de contemplacao, ja que o frio nao nos permitia aproveitar mais o exterior da van.

Chegamos a Ithaca, NY, nos hospedamos e depois cada um pode escolher a propria alimentacao. No geral todas as nossas refeicoes sao feitas em grupo devido ao tempo contado e a dificuldade de locomocao (frio e neve). Porem, desta vez era ate possivel escolher verduras e suco natural no mercado!


09 de Fevereiro - Esse prometia ser um dia intenso, pois haveria masterclass e concerto com pouco tempo entre eles. No ar, a expectativa: esse seria o dia que conheceriamos o grande percussionista e compositor Gordon Stout, do qual tocamos muitas peças para marimba e temos como referencia de marimbista.
Muito legal para gente que os nomes nos livros, metodos e lendas se tornam pessoas nessa turne, humanos simpaticos, calmos, humildes e estudiosos. Fomos muito bem recebidos pelo Stout e os seus alunos foram muito soliscitos conosco.
O masterclass transcorreu muito bem e o publico balançou com os ritmos brasileiros, afinal, nao da pra ficar parado! Como estamos no final da turne, o grupo esta cansado e sempre parece que vamos tocar sem energia. As passagens de som nao sao empolgadas, ainda que muito bem feitas
para relembrar as musicas e, principalmente, conhecer a acustica do teatro. Porem, quando chega a hora, subimos no palco e encontramos forcas uns nos outros.
Os masterclasses e concertos parecem novos, cheio de animos. Sempre como se fosse o
primeiro!

Apos o masterclass, fomos ao R.U. com grande parte dos alunos e com o proprio Stout. O sistema eh o mesmo de Keene, qual seja, paga-se um preço unico e tem-se acesso a uma grande praça com muitas opçoes.
Os alunos se mostraram curiosos para saber como nossa faculdade funcionava, nossas impressoes dos EUA e da cultura brasileira. Por outro lado, nos estavamos interessados em saber como funcionava a University of Ithaca, como era a estrutura e, principalmente, a historia de Gordon Stout.
Ele acompanhou o processo do florecimento da percussao de perto, como percussionista e compositor, em ambos os casos sendo importante pra ampliaçao e difusao do repertorio percussivo, expansao da tecnica na marimba (que se deu da metade do
seculo XX pra frente) e interprete.

O concerto foi em um teatro enorme, com lugar para 800 pessoas. O publico nos recebeu muito bem e varias pessoas vieram nos cumprimentar apos a apresentacao.
No meio da desmontagem, Stout apareceu com um quarteto de baquetas de marimba e disse que queria tocar choro conosco!! Logo as pessoas pegaram os instrumentos e os dois choros foram acompanhados. Que honra tocar com ele!
Apos a desmontagem ele ainda nos disse belas palavras. Sobre o concerto, ele tinha duas coisas a falar: a primeira era que todos os nossos sons eram bonitos e bem tocados. Sons de qualidade em todos os instrumentos, o que significa dizer que a tecnica dos integrantes do grupo eh de otima qualidade. A segunda eh que era bom ver musicos tocando em grupo desse jeito, conectados em musica de camara e apaixonados pela musica que fazem.

Fomos dormir muito preocupados, pois os jornais de NY previam uma tempestade de neve muito forte o dia seguinte inteiro. Diziam que deveriamos estocar comida e agua e somente viajar em caso de emergencia.
10 de Fevereiro - De fato, nevou a noite e o dia seguinte inteiro, mas nao nas proporçoes cataclismicas que preveram os noticiarios. Quando saimos, a neve caia regularmente e isso somente nos afetou porque tivemos que dirigir mais devagar, por segurança.
Chegamos em Stony Brook, Nova Iorque, sem maiores problemas e no fim da tarde a neve de fato aumentou e caiu intensamente. Parou bem a tempo de jantarmos, por mais que tenha deixado as ruas escorregadias.

O jantar foi delicioso: fomos com o professor da State University of New York - Stony Brook, Eduardo Leandro, os alunos Rafael e Piero (todos ex-PIAPs) e a namorada do Piero comer em uma lanchonete. Nos divertimos muito e demos muita risada, afinal, todos nos sentimos em casa, PIAPs!
Agora os percussionistas descansam, pois querem fazer um otimo concerto amanha. Todos tem
carinho por Edu Leandro, que eh um ser humano sem igual e tem o nosso respeito, por estar entre os grandes percussionistas do mundo e ter vindo do mesmo lugar que nos.
[como sempre, pedimos desculpas pelos acentos, cedilhas e tils que estao faltando. As vezes temos problemas com os teclados daqui!]

Um comentário:

Gui Prioli disse...

Fala pessoal!

Acabei de ler as novidades. Estou muito feliz com o sucesso que vocês estão tendo aí nos EUA. Pelo visto não teve um só professor das escolas que vocês visitaram que não tivesse só elogios a oferecer. Esses depoimentos que vocês transcreveram aqui são muito bonitos, muito sinceros. Que orgulho! =D

Uma das peças de tímpano do Carter é dedicada ao Jan Willians, não é?

Achei muito legal o que vocês escreveram sobre os nomes nos livros estarem se tornando seres humanos. É interessante porque os caras importantes da história da percussão, no geral, ainda estão vivos, e deve ser muito legal ter esse tipo de oportunidade.

Hm, vou escrever um duo para a campana gigante de Ann Arbor e o bumbo gigante de Indiana. Hahaha!

Grande abraço, pessoal!