quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Depoimentos emocionantes.

Chegamos em Urbana no dia 31 de janeiro e fomos direto para o teatro montar o concerto. Foi muito cansativo, pois não tivemos nenhum momento livre.

A montagem foi feita rapidamente, com uma breve passagem de som para nos adaptarmos ao teatro, que merece uma descrição: esta sala aparentava ser antiga, as paredes eram de uma madeira escura, os acentos possuiam a mesma madeira e um estofado vinho contrastando muito bem com as paredes e estão dispostos da seguinte maneira: três seções em frente ao palco, uma ao centro e duas laterais e mais um mezzanino, que foi onde a maior parte do público estava durante o concerto.

Após toda a preparação de palco voltamos ao hotel, apenas para uma troca de roupas e uma pequena concentração. De volta à sala de concerto e tudo pronto para mais um show. Infelizmente logo no fim da primeira música sentimos um público muito frio e pouco receptivo, isso nos deixou abalados. Ainda assim tinhamos todo o concerto pela frente e ninguém queria deixar toda a energia se perder por isso. Nos apoiamos uns nos outros e fizemos um bom concerto, apesar do clima árido causado pela platéia. Logo depois do concerto recebemos um CD com a gravação do mesmo.

No dia seguinte, 1 de fevereiro, bem cedo saimos da cidade e fomos em direção a La Grange, para conhecer a Musser Factory (Fabricantes de marimbas, vibrafones, campanas). Nossa primeira surpresa foi ver a bandeira brasileira asteada junto com a americana na porta da fábrica. O grupo todo foi tomado de emoção ao ver este pequeno gesto que nos mostrou uma grande consideração pela visita. Dentro do prédio a visita começou com uma explicação sobre a Rosewood, madeira utilizada para fabricação das teclas, que chega a ficar até dez anos estocada para envelhecer. Esse tempo é necessário devido a mudanças na estrutura da madeira causando mudança na afinação.


O próximo passo foi ver a construção dos tubos ressonadores. Mais uma surpresa: o encarregado da seção colocou um cartaz em português dizendo: "Boa vinda ao departamento dos ressonadores". Lá presenciamos como são "afinados" os tubos e mais a frente vimos como eles são cortados. Passando para a próxima parte, vimos a fabricação das teclas de vibrafone e marimba/xilofone, que são de alumínio e de kelon respectivamente. O Kelon é um material substituto da madeira feito com fibra de vidro, esse material foi desenvolvido na tentativa de salvar a Rosewood que está entrando em extinção.

O próximo departamento era a afinação das teclas de madeira. Um cidadão usa um aparelho medidor de frequências para a primeira afinação da tecla, em seguida ele faz um corte na madeira para depois afinar mais precisamente os harmônicos, existentes em diferentes partes da barra. Todos nós fomos presenteados com refugos de teclas, ou seja as sobras da madeira!! Nosso guia também explicou sobre o Paduk, uma outra madeira com qualidade inferior ao Rosewood usada na fabricação de marimbas e xilos mais baratos, geralmente modelos para estudantes. Os instrumentos feitos com essa madeira não entram na sala que visitamos
logo em seguida. Esta sala era para a classificação das teclas: cada tecla de madeira tem uma particularidade, e elas devem ser escolhidas de forma uniforme para que o instrumento não possua diferenças timbrísticas entre as teclas.


Seguindo pela fábrica, vimos o vibrafone comemorativo modelo Lionel Hampton: muito bonito, uma estrutura maravilhosa e um som incrível e incomparável. Já a próxima sala era exclusivamente para afinação das campanas, que merecem uma explicação sobre o treinamento dos profissionais: o curso é muito extenso, dura por volta de quatro anos e depois de todo o treinamento o cidadão pode simplesmente receber a notícia de que não pode fazer esse trabalho, tamanha a destreza auditiva necessaria para o trabalho ! E assim terminou nossa passagem pela Musser, foi muito bom acompanhar como os instrumentos que tocamos são feitos, além de vermos tamanha dedicação de todos os funcionários da fábrica. Um fato interessante é que a fabrica nao possui departamento de inspeção de qualidade, cada trabalhador é responsavel por sua propria qualidade.


Chegamos em DeKalb, Illionis, animados da visita na Musser e do tratamento la recebido. Por outro lado, eh a universidade onde Greg Beyer da aula e nos mal podiamos esperar para conhece-lo e tocar pra ele. Como sempre, chegamos no hotel e deixamos tudo. Direto para o teatro, ficamos impressionados com a beleza e o tamanho dele. Fomos surpreendidos com o fato
de que tocariamos e seriamos transmitidos ao vivo pela internet. A ida e a montagem no teatro foi pipocada por ligacoes dos integrantes para os familiares no Brasil. Rapida parada no hotel para a troca de roupas e ja estavamos prontos para o concerto. Greg foi um anfitriao incrivel e o
publico nos recebeu bem. Nossos coracoes estavam quentes e contentes por tocarmos para nosso parentes (as saudades aqui sao bem grandes). Depois da conversa em palco/desmontagem do concerto, fomos todos para a sala de percussao para a ja tradicional, quase obrigatoria, "Pizza com a galera da Faculdade"! Mas a surpresa que tivemos foi de apertar o coracao: Greg
colocou como musica ambiente samba tradicional e Djavan!! Ah, saudades da patria... A troca com os alunos eh sempre especial e no final, uma surpresa: a aluna do terceiro ano de bacharelado Clarisse (brasileira) organizou um grupo de World Music que tocou samba pra gente! Muito legal, com direito a Greg empolgadissimo dancando e tocando cuica e altas convencoes de bateria de escola de samba. So falta os gringos aprenderem o balanco brasileiro.


Na manha do dia 02 de janeiro nos preparamos a masterclass de maneira diferente. Tinhamos, por sorte, alfaia, zabumba e surdos emprestados e so precisavamos afina-los para poder usar. Foi uma sensacao otima poder tocar a masterclass com instrumentos autenticos dos ritmos. Poucos sabem, mas tivemos que fazer muitas concessoes relacionadas a instrumentacao dos ritmos regionais, pois nao tinhamos possibilidade de carregar tantos tambores enormes e nem era seguro confiar no manuseio dos carregadores da TAM.

Nesta masterclass tivemos mais um detalhe de muita importancia: Greg Beyer, um percussionista renomado por tocar Berimbau pelo mundo todo, participou da nossa roda de capoeira e do samba. Foi realmente muito especial! Nos estavamos ansiosos para ve-lo tocando berimbau e foi, de fato, maravilhoso.

Foi divertido, depois da masterclass, fazer uma roda de maracatu com os alunos de percussao interessados. Video aqui!

Naquela tarde viajamos algumas horas a caminho de Chicago. Sim, nao estava nos planos ir para Chicago porem ha alguns dias John conseguiu agendar uma visita ao galpao da Degan. O que eh a Degan? Bom, ha mais ou menos 70 anos era uma fabrica que produzia otimos instrumentos. Entretanto, era uma fabrica pequena que produzia instrumentos com qualidade demais. Eh uma pratica comercial comum grandes fabricantes comprarem pequenos fabricantes, ja que eh mais dificil para uma empresa pequena sobreviver com a concorrencia. Foi isso que aconteceu: Truste. Agora o galpao serve de museu e la nos vimos muitos instrumentos, fotos e publicacoes interessantissimas.

Viajamos de volta para Dekalb e fomos jantar com os alunos de percussao da Northern Illinois University, que num ato de extrema simpatia quiseram jantar conosco no restaurante em frente ao hotel, pois sabiam que teriamos que acordar cedo na manha seguinte. No jantar presenciamos uma declaracao linda de Greg Beyer, a respeito do concerto, e a opiniao dos estudantes que jantaram conosco tambem foi muito tocante. Quanto mais conversamos com as pessoas que assistiram ao nosso concerto, mais entusiasmados ficamos sobre nossa responsabilidade enquanto percussionistas, musicos, artistas e brasileiros. Eh uma sensacao unica a de tocar as pessoas com os frutos dos proprios esforcos. O proprio John Boudler disse, no inicio da viagem, que o trabalho arduo dele nesse ano inteiro estava pago no momento que ele viu a expressao de euforia e deslumbramento presente no rosto de todos do Grupo. Clique aqui para ver o depoimento emocionante de Greg Beyer.

Um comentário:

Unknown disse...

Fiquei emocionada com o depoimento!
Como diz JB "Que coisa lindo!"
Pergunta: John e Piap, como é poder mudar o mundo com sua música?
Espero poder contribuir sempre pra isso, e que todos vocês tenham saúde para levar esse amor em forma de música para muitos!
Vamoae!!!

Abraços a todos!
Lau